Na tarde desta segunda-feira, dia 29 de julho, Marie estava à conversa com Xana Carvalho e Nelson Lisboa quando recordou como foi o seu primeiro encontro e o seu primeiro beijo.
“Eu não podia sair de casa, andava no 11º ano em Artes e nunca saí na minha adolescência, tinha de estar em casa, às vezes a minha mãe trancava-me no quarto, era mesmo hardcore. Nesta altura, estava a tentar descobrir-me e nunca tinha sentido atração por ninguém, não tinha atração por mim, não gostava de mim, não conseguia gostar do outro e não entendia na altura. E em Artes, principalmente na escola onde eu andava, havia pessoas lésbicas no meu grupo, mais alternativos, um mundo mais aberto, e nunca consegui explorar esse mundo sem ser na escola, era tudo às escondidas“, começou por dizer.
Marie ainda recordou como conheceu a rapariga: “Eu lembro-me que havia uma rapariga que ia entrar no 12º ano de Artes nessa escola e o que eu fiz foi: encontrei o Twitter dela, estava a tentar descobrir-me e pensei: é uma pessoa que não conheço, não sabe nada sobre mim, e se eu falasse com ela só para eu descobrir como é dar um beijo, porque eu com rapazes tinha muita vergonha. É na boa ter sido com uma rapariga, foi fixe“, contou.
“Começámos a falar e claramente as pessoas querem combinar coisas, só que eu não podia sair de casa e ela morava mesmo perto de mim. A minha mãe punha-se atrás da porta a controlar e houve uma altura em que eu ia ter com ela às escondidas, enquanto os meus pais estavam a trabalhar, ia apanhar o autocarro que era tipo 10 minutos. A minha mãe ouviu a chamada, trancou-me em casa e deu a chave ao meu avô para eu não sair. Eu disse que não podia, podia fugir só que ia trazer muitos problemas, porque a minha mãe desconfiava que eu poderia estar interessada numa rapariga, porque nessa altura estava com um estilo um bocado diferente e associavam isso muito diretamente a ser homossexual e, a partir do momento em que eras homossexual, era um julgamento muito grande“, acrescentou.
No seguimento deste assunto, Marie revelou como foi o primeiro beijo: “Um dia ela queria encontrar-se comigo, apanhou o autocarro e veio ter à paragem da minha aldeia. Eu consegui ir buscá-la e levei-a para o meu quarto às escondidas. Estávamos só a conhecer-nos, teve de ser no meu quarto às escondidas, foi muito estranho. Tivemos só a conversar e, no final, demos uns beijinhos, porque ela claramente devia ter aquele mindset muito mais à-vontade para comer. A mim foi interessante para explorar, eu não senti a paixão. Só que depois fomos para a escola e eu tinha uma melhor amiga nessa altura, que era gótica e lésbica, e eu apresentei-as. Entretanto, fui internada e fiquei sem telemóvel porque tinha muitos stress com os meus pais, porque queriam provar que eu era doente mental, fiquei lá a fazer os estudos e não ia à escola nessa altura, não conseguia contactar com as pessoas. Quando voltei para a escola, a minha melhor amiga e essa pessoa que foi o meu primeiro beijo namoravam e então perdi a minha melhor amiga e perdi o meu primeiro romance“.
“Eu estava do género: ‘não faz mal, vocês podem estar juntas, mas podemos ser só amigas?’. Eu não queria nada, até fiquei aliviada, porque não tenho tempo para ter romances, estou com grandes problemas e não posso ter romances, só que elas não conseguiram separar as cenas“, terminou.